terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Memórias...




Em 30 de março de 2003, fomos para o nosso sítio na localidade Cinco Cantos, município de Tenente laurentino Cruz – RN, cuja propriedade tinha adquirido em 1992, quando vivia viajando constantemente a serviço do Banco do Brasil, resolvendo problemas de ordem críticas por meio de adições, como assim eram chamados esses tipos de trabalhos no interesse do serviço e adquiri sem mesmo a conhecê-la, apenas por meio de meu pai, mas logo na primeira oportunidade fui conhecer e gostei e firmei que quando chegasse o momento da minha aposentadoria iria morar naquela propriedade, porque sempre gostei de conviver com a natureza,  aliás   no momento seria a coisa que gostaria de fazer, trabalhar com a terra e cuidar dos animais.
Enfrentei situações que jamais imaginaria que  pudesse, trabalhar com a terra com as minhas própria mãos, sentir o cheiro da terra molhada, ver as plantas crescerem, e assim por diante era o meu passatempo preferido.
Fomos  procurados por duas Senhoras ligadas a política e nos fizeram a oferta para que fôssemos  professores na Escola da zona rural daquela localidade, respondi que fizessem a proposta para Gilza, porque ela estava fazendo pedagogia, e eu simplesmente queria me envolver apenas com a terra que não me causaria tantas, desilusões, me referindo ao Banco do Brasil, enfim, não queria mais nada com a minha vida profissional, social, nada que pudesse me envolver novamente com certas traições do mundo da competição.
E a convocaram para ensinar Matemática e outras matérias, e ela respondeu que não teria condições de ensinar Matemática, porque nunca gostou de estudar a tal da Matemática. Foi então, que olhou para mim, sem dizer nada e chorou em silêncio, porque gostaria muito de ensinar e eu aquelas alturas não queria mesmo me envolver de forma nenhuma com a minha vida profissional, uma depressão silenciosa que me causava uma revolta, mágoa... Um Escorpião que usa o “Eu me destruo para que ninguém me destrua”.
Há! Mas quando a vi chorando com aquele olhar que somente eu conhecia quando estava verdadeiramente triste, disse para evitar maiores desgostos que seria o não ensinar, estar em salas de aulas, ter alunos, ter uma escola: Vamos fazer o seguinte, ensinarei Matemática e ela ficará com as outras matérias, e para mim não tem problema, ficamos compartilhando as mesmas responsabilidades.
Posso dizer com toda a certeza, até então nunca tinha visto tanto brilho no seu olhar e falou: não acredito vou realizar meus sonhos, ser professora...
Estudava em Caicó e viajava todos os dias, saía às quatro da  manhã e pegava carona até Florânia e lá um outro transporte para a Universidade. Depois, começou a viajar no Fusca que tinha um zelo grande por ele, e até dias atrás dizia que ainda possuiria um novo fusca, descia a Serra e subia na parte da tarde, era somente alegria.
Coragem não faltava em todos os momentos. Certa vez dei um jeito de adquirir uma moto e ela teria que aprender para ir de moto, para Tenente em meio a madrugada. Agora o mais difícil seria, como ensiná-la a pilotar uma moto ainda mais uma  daquelas  mais alta. Confessor que o medo bateu forte porque não sabia nem andar direito, como iria ensiná-la. Lembro que na parte da tarde no domingo, me perguntou se poderia pilotar a moto e em tom de brincadeira disse que sim, embora não acreditasse que poderia fazê-lo. Subiu na moto, arrancou e logo na frente deitou a moto no chão, alguém passou ajudou a levantar, subiu novamente saiu, cai aqui ou acolá, e eu atrás gritando, pare, pare... e nada dirigiu-se até em casa, freou, desceu, esperou por mim e quando cheguei, sorriu do seu jeito e disse: não disse que conseguiria, agora ninguém me segura e até na próxima semana já quero ir de moto de madrugada.
Desenvolveu um trabalho naquela escola da zona rural que sei que durante décadas jamais a esqueceram. Eu, apenas era um ator coadjuvante dos seus trabalhos, porém sabendo da minha real fortaleza que a de  implementar, criar, modifica, fazer acontecer, e assim fizemos juntos.
Dizia sempre: é necessário que ajudemos a essa comunidade tão carente, um abraço, uma atenção a mais, eles ficam tão satisfeitos,  alunos ,pais, professores, apoio escolares, enfim, todos a amavam com um respeito tão grande. Poderia ser que não tivesse  a certeza de sua missão junto aquela comunidade, mas de uma coisa tenho certeza, que Deus a usou de uma forma muito forte.
Basta que a comunidade analise o antes de 2003 e daquela data até 2012, tinha um zelo por todos e acho até que não fez muito mais  porque eu era um obstáculo porque nunca conseguir acompanhá-la, nas suas visitas, com as sua energias em fazer mais e mais por todos.
Os alunos do ensino médio, tinham um respeito enorme  por ela, ajudava a quem se dispusesse a querer ser ajudado e muitas vezes sobrava para mim, mas tinha que entendê-la, era o jeito de ser e confesso que muitas vezes tive que colocar  um freio porque senão ela não parava. Com relação aos seus alunos, a noite falava o tempo inteiro deles, dos seus problemas familiares, perguntava-me se tinha idéia em como ajudá-los, e sei que muitas vezes fui uma inspiração para  a desenvoltura dos seus talentos.
E hoje a aula como foi? Perguntava sempre,  respondeu: foi ótima, pulei corda com eles, deitei no chão, rolei, cantei, brinquei, briguei, fiz um piquenique lá no sítio perto, dei aula para eles sobre os alimentos, cada um deles levaram uma fruta, fizemos salada, tiramos fotos, e depois lanchamos o bolo que fiz ontem a noite.
Um menino brigou com o  colega, apartei a briga fiz os dois se abraçarem, e depois ele disse: tia, ele deu neu... indaguei o porquê e depois ensinei que a palavrinha correta é em mim, em mim, repita comigo, em mim. Neu está errado e   ele me respondeu: não tia num foi na sinhora não,  foi neu mermo. Isso para mim é uma festa.
Há e você não sabe de nada. Houve uma briga entre dois alunos na escola, e os pais desses alunos foram chamados pelo diretor, só que os pais estavam praticamente intrigados em virtude da briga dos filhos. Diretor tremia para um canto, professora para outro, coordenação nem se fala, ai não deu outra, apelaram para Gilzinha, isso ela dizendo, a essas alturas as pernas tremiam, mas tinha que fazer alguma coisa. Conversei com os pais, fiz os dois se abraçarem, e terminaram chorando no abraço. Isso para mim é o mesmo que uma festa.
Diga-me você que lê esses guardados, entre tantos outros, será que seria insensível diante de tamanha pedagogia.
Citação: Estou sempre colocando em prática a defesa da minha Monografia quando concluí o meu curso de Pedagogia que era a Pedagogia do Amor. E concluía: A  verdadeira Pedagogia do Amor .é o Amor de Cristo. Gilza  Medeiros.











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