Em 30 de março
de 2003, fomos para o nosso sítio na localidade Cinco Cantos, município de
Tenente laurentino Cruz – RN, cuja propriedade tinha adquirido em 1992, quando
vivia viajando constantemente a serviço do Banco do Brasil, resolvendo
problemas de ordem críticas por meio de adições, como assim eram chamados esses
tipos de trabalhos no interesse do serviço e adquiri sem mesmo a conhecê-la, apenas
por meio de meu pai, mas logo na primeira oportunidade fui conhecer e gostei e
firmei que quando chegasse o momento da minha aposentadoria iria morar naquela
propriedade, porque sempre gostei de conviver com a natureza, aliás no momento seria a coisa que gostaria de
fazer, trabalhar com a terra e cuidar dos animais.
Enfrentei
situações que jamais imaginaria que pudesse,
trabalhar com a terra com as minhas própria mãos, sentir o cheiro da terra
molhada, ver as plantas crescerem, e assim por diante era o meu passatempo
preferido.
Fomos procurados por duas Senhoras ligadas a
política e nos fizeram a oferta para que fôssemos professores na Escola da zona rural daquela
localidade, respondi que fizessem a proposta para Gilza, porque ela estava
fazendo pedagogia, e eu simplesmente queria me envolver apenas com a terra que
não me causaria tantas, desilusões, me referindo ao Banco do Brasil, enfim, não
queria mais nada com a minha vida profissional, social, nada que pudesse me
envolver novamente com certas traições do mundo da competição.
E a convocaram
para ensinar Matemática e outras matérias, e ela respondeu que não teria
condições de ensinar Matemática, porque nunca gostou de estudar a tal da
Matemática. Foi então, que olhou para mim, sem dizer nada e chorou em silêncio,
porque gostaria muito de ensinar e eu aquelas alturas não queria mesmo me
envolver de forma nenhuma com a minha vida profissional, uma depressão
silenciosa que me causava uma revolta, mágoa... Um Escorpião que usa o “Eu me
destruo para que ninguém me destrua”.
Há! Mas quando a
vi chorando com aquele olhar que somente eu conhecia quando estava
verdadeiramente triste, disse para evitar maiores desgostos que seria o não
ensinar, estar em salas de aulas, ter alunos, ter uma escola: Vamos fazer o
seguinte, ensinarei Matemática e ela ficará com as outras matérias, e para mim
não tem problema, ficamos compartilhando as mesmas responsabilidades.
Posso dizer com
toda a certeza, até então nunca tinha visto tanto brilho no seu olhar e falou:
não acredito vou realizar meus sonhos, ser professora...
Estudava em
Caicó e viajava todos os dias, saía às quatro da manhã e pegava carona até Florânia e lá um
outro transporte para a Universidade. Depois, começou a viajar no Fusca que tinha
um zelo grande por ele, e até dias atrás dizia que ainda possuiria um novo
fusca, descia a Serra e subia na parte da tarde, era somente alegria.
Coragem não
faltava em todos os momentos. Certa vez dei um jeito de adquirir uma moto e ela
teria que aprender para ir de moto, para Tenente em meio a madrugada. Agora o
mais difícil seria, como ensiná-la a pilotar uma moto ainda mais uma daquelas
mais alta. Confessor que o medo bateu forte porque não sabia nem andar
direito, como iria ensiná-la. Lembro que na parte da tarde no domingo, me
perguntou se poderia pilotar a moto e em tom de brincadeira disse que sim,
embora não acreditasse que poderia fazê-lo. Subiu na moto, arrancou e logo na
frente deitou a moto no chão, alguém passou ajudou a levantar, subiu novamente
saiu, cai aqui ou acolá, e eu atrás gritando, pare, pare... e nada dirigiu-se
até em casa, freou, desceu, esperou por mim e quando cheguei, sorriu do seu
jeito e disse: não disse que conseguiria, agora ninguém me segura e até na próxima
semana já quero ir de moto de madrugada.
Desenvolveu um
trabalho naquela escola da zona rural que sei que durante décadas jamais a
esqueceram. Eu, apenas era um ator coadjuvante dos seus trabalhos, porém
sabendo da minha real fortaleza que a de
implementar, criar, modifica, fazer acontecer, e assim fizemos juntos.
Dizia sempre: é
necessário que ajudemos a essa comunidade tão carente, um abraço, uma atenção a
mais, eles ficam tão satisfeitos, alunos
,pais, professores, apoio escolares, enfim, todos a amavam com um respeito tão
grande. Poderia ser que não tivesse a
certeza de sua missão junto aquela comunidade, mas de uma coisa tenho certeza,
que Deus a usou de uma forma muito forte.
Basta que a
comunidade analise o antes de 2003 e daquela data até 2012, tinha um zelo por
todos e acho até que não fez muito mais
porque eu era um obstáculo porque nunca conseguir acompanhá-la, nas suas
visitas, com as sua energias em fazer mais e mais por todos.
Os alunos do
ensino médio, tinham um respeito enorme
por ela, ajudava a quem se dispusesse a querer ser ajudado e muitas
vezes sobrava para mim, mas tinha que entendê-la, era o jeito de ser e confesso
que muitas vezes tive que colocar um
freio porque senão ela não parava. Com relação aos seus alunos, a noite falava
o tempo inteiro deles, dos seus problemas familiares, perguntava-me se tinha
idéia em como ajudá-los, e sei que muitas vezes fui uma inspiração para a desenvoltura dos seus talentos.
E hoje a aula
como foi? Perguntava sempre, respondeu:
foi ótima, pulei corda com eles, deitei no chão, rolei, cantei, brinquei,
briguei, fiz um piquenique lá no sítio perto, dei aula para eles sobre os
alimentos, cada um deles levaram uma fruta, fizemos salada, tiramos fotos, e
depois lanchamos o bolo que fiz ontem a noite.
Um menino brigou
com o colega, apartei a briga fiz os
dois se abraçarem, e depois ele disse: tia, ele deu neu... indaguei o porquê e
depois ensinei que a palavrinha correta é em mim, em mim, repita comigo, em
mim. Neu está errado e ele me respondeu: não tia num foi na sinhora
não, foi neu mermo. Isso para mim é uma
festa.
Há e você não
sabe de nada. Houve uma briga entre dois alunos na escola, e os pais desses
alunos foram chamados pelo diretor, só que os pais estavam praticamente
intrigados em virtude da briga dos filhos. Diretor tremia para um canto,
professora para outro, coordenação nem se fala, ai não deu outra, apelaram para
Gilzinha, isso ela dizendo, a essas alturas as pernas tremiam, mas tinha que
fazer alguma coisa. Conversei com os pais, fiz os dois se abraçarem, e
terminaram chorando no abraço. Isso para mim é o mesmo que uma festa.
Diga-me você que
lê esses guardados, entre tantos outros, será que seria insensível diante de
tamanha pedagogia.
Citação: Estou
sempre colocando em prática a defesa da minha Monografia quando concluí o meu
curso de Pedagogia que era a Pedagogia do Amor. E concluía: A verdadeira Pedagogia do Amor .é o Amor de
Cristo. Gilza Medeiros.
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