E entre convulsões,
apesar de ter no rosto uma serenidade sentia
a batalha em que se travava até que num determinado momento senti uma
necessidade de chegar mais perto, como se fosse um chamado inconsciente ,
naquele momento recebi uma ligação celular, um amigo da Igreja fez uma oração
pelo celular comigo para que tivesse a fortaleza necessária para enfrentar a
situação porque ele sentia que nada estava bem, e coloquei no ouvido dela
enquanto as orações trilhavam no plano espiritual consolidando uma vitória na
batalha travada.
Alguns minutos
passaram-se, e dos seus olhos saíram um derramamento de lágrimas muito fortes e
depois ficou quietinha. E disse ao enfermeiro, que estava nos acompanhando que
observasse que ela estava quietinha e silenciou nos movimentos, e a partir desse momento o trabalho de parto, um novo nascimento estava sendo processado
no plano espiritual.
Foi então, que
me lembrei das palavras que foram ditas com o seu acordo; “Que agora ela só iria
quando o Senhor Jesus, estendesse as mãos e a recebesse, então ela iria mas de
outra forma não.”
Desabei naquele
momento em prantos, pensava na minha família, nas minhas filhas, na minha
solidão sem ela, porque nunca nos afastamos um do outro a não ser por
necessidade e passou um filme na minha cabeça com uma rapidez, que senti como
se transformando, sem que tivesse controle mais de nada.
Ao ser consumado
a passagem, senti uma tremenda solidão espiritual, uma sensação involuntária de
controle da vida. Realmente o homem nada é mais do que como uma chama acesa e
ao apagar-se quem seria senão apenas o ar, integrado, ao éter, energia apenas.
Mesmo sem que
houvesse mais vida. Indaguei-lhe: Gilza, nunca conversamos nada sobre esses
momentos, nunca tivemos nem coragem de
pensar, porque o que queríamos era nossa vida,. nossa felicidade, mesmo assim,
me diz, onde você gostaria de ficar?
De uma forma
muito forte, porém cansada, como se alguém estivesse acordando de um sono
profundo aqueles em que as palavras precisam ser forçadas para que sejam
emitidas, ouvi.
“Me deixe ficar
com a minha famíliaaaaaaa”.
Respondi: Gilza
você está falando comigo. Respondeu: Simmm. Com uma voz arrastada e cansada.
Chamei Helena a
irmã dela e disse: Helena, Gilza me pediu para ficar com vocês aqui, junto com
a família e relatei o que aconteceu.
A partir daí a
Helena cuidou junto com a família para que se processasse na última morada dela junto com o
seus familiares, pai, irmãos, avós, avôs, tios.
Depois que foram
efetuado todos os procedimentos de praxe do hospital, o corpo foi encaminhado
para o necrotério. Ora pela primeira vez que visitaria um necrotério, como
seria isso, nunca tinha visto.
E ao chegar lá,
me deparei com vários leitos de cimento e em um deles o corpo foi colocado, e
fiquei ao lado dela, enquanto sua irmã Helena ficou lá fora, sentindo a sua
ausência e pensando na vida de todos.
Chorei muito,
cantei, orei, enfim, nesses momentos nem mesmo com toda preparação alguém
poderá dizer o que faria se estivesse no meu lugar. Abri as pálpebras dos seus
olhos, e sentia como se ainda estivesse vida.
Pedi perdão de
tudo, sei lá, por algo que poderia ter feito e ela não ter gostado ou até mesmo o que tinha deixado de fazer e
lembrei-me que em vida já tinha feito a mesma coisa e ela me respondeu passando
suas mãos no meu rosto e dizendo; “Meu filho, porque me pedes perdão, se não
tenho nada para lhe perdoar, ao contrário eu é que agradeço em fazer parte da sua vida.Não nego mas aquilo me deixou muito
feliz.
Entre conversas:
Disse: Gilza me diz o que será de mim sozinho para cuidar das nossas filhas,
nunca me preocupei nem mesmo em aprender nada, tudo você cuidava.
E ela me
respondeu com uma voz cansada, arrastada: Eu vou lhe ajudarrrrrr.
Indaguei: Gilza
você está falando comigo, está falando comigo, estou ouvindo sim.
Ela respondeu:
Sim.
E indagou: Vou
lhe pedir uma coisa.
Respondi: Tudo o
que você quiser, peça, pode pedir.
E continuou: Não
fale mais naquele assunto não.
E de uma forma
bem diferente, sabia de qual assunto falava: E perguntei: Você perdoou e ela
respondeu que sim, perdoei.
Então eu disse
que também perdoaria e quando ela me procurasse, diria que você tinha perdoado e eu a perdoaria também.
Naquele momento
também tive a ousadia de falar e pedir o que gostaria. Era uma sensação tão
forte, como se ela estivesse viva, conversamos e até mesmo esquecia que nada
daquilo estava acontecendo. E pedi:
“Gilza, vou lhe pedir para você não deixar o seu rosto ficar
deformado não, para que possamos admirar a sua naturalidade, sua beleza, pelo
menos por mais dois dias.
Pedi porque a causa
mortis tinha sido, insuficiência respiratória,
enfarto do miocárdio e em decorrência da suspeita do retorno do problema maior.
E naquele momento estava ficando inchada, tirando o formato do seu rosto.
Silenciou e não
houve resposta, apenas silenciou.
E continuei,
porque estava sentindo essa necessidade de conversar mais ainda, até que senti,
que ou como se estivesse sendo avisado de que a funerária estava prestes a
chegar.
Gilza, indaguei:
Posso lhe pedir uma última coisa, posso. E silenciou e senti como se ela
tivesse se virado para alguém ou algo que estivesse na sua retaguarda a sua
espera. E continuei: Posso. E silenciou, e fiquei a espera de uma resposta, até
que a resposta veio, cansada: Pooodddde.
Isso logo após,
assim entendo, como uma autorização para que fosse dada aquela resposta.
E continuei: Olhe, vou fazer uma oração e invocar a Divina Presença, e a Presença do Arcanjo Miguel,
para que ele possa te guardar e entregar você nas Mãos do Nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo, e você possa sair daqui agora, e a partir desses
momentos você elevar-se e não ficar aqui, para me ver chorando, nem nossas
filhas, nem seus familiares, nem as pessoas que lhe querem bem. Tá certo. E
apenas o silencio ficou.
E fiz do fundo
do meu coração tirando de dentro mim, tudo o que poderia fazer com a minha
sinceridade quando estou buscando a Divina Presença.
Bíblia Sagrada –
Livro de Judas 8 e 9.
A partir daí
meus olhos espirituais viram-na caminhando segurando na mão do Anjo de Luz que
a levava, serena e tranqüila, sem mais olhar para trás.
Logo em seguida
chegou os serviços funerários e a levou,enquanto me dirigi até a Sede da
Diocese a chamado do Administrador Diocesano padre Ivanoff.
O Administrador
Diocesano, falou da possibilidade de levá-la novamente até Tenente Laurentino
Cruz – RN, para que fosse feita uma Missa de corpo presente, a pedido dos
comunitários, em virtude do belíssimo trabalho que ela teria feito, tanto na
Igreja Católica, como na Educação Municipal e entre outras atividades que a
marcou muito na lembrança da população e mais ainda, na comunidade rural, onde
vivemos por mais quase dez anos.
Providenciamos e
que no dia seguinte a Missa seria realizada na manhã do dia 25 de dezembro de 2012 na
Igreja de São Francisco – Tenente Laurentino Cruz – RN.
Tão logo o corpo
retornou depois dos preparativos da funerária, já estávamos esperando-a, junto com
as nossas filhas, familiares e amigos.
Ao abri e deixar
a mostra o seu corpo, confesso que nunca tinha visto tão bonita, uma sensação
de ternura, serenidade e seu rosto intacto como se tivesse sido preparada para
aquele momento.
E quando a vi,
algo disse muito forte. E repeti para Chiquinha, uma amiga nossa que estava vendo e ouvindo; Chiquinha
algo me fala de Santa Terezinha, porque será?
Não entendo
muito dessas situações da Igreja de Santos e Santas, são tantas que não procuro
me ater e nem explorar as riquezas que há por trás de tudo isso, sem que haja
idolatria ou acesso acima do Senhor Jesus.
Chiquinha me
respondeu: Que só falta a rosa nas sua
mãos. Tão logo ela falou isso, sua sobrinha, trouxe uma rosa e colocou nas mãos
dela e tudo aquilo gerava para mim, motivo de conforto. Mas disse, que
achava que a rosa ainda não seria aquela que Santa Terezinha tinhas nas mãos,
já tinha visto em alguma Igreja, seria um lírio branco talvez.Chiquinha respondeu que sim. Seria um lírio
branco.
No outro dia
como estava previsto dirigimo-nos para Tenente Laurentino Cruz, par a Missa de
corpo presente, quanta comoção existiu naquele momento, uma Missa tão bem
participada, o coral da qual participava cantava suavemente, ainda que todos
estivessem comovidos e entre lágrimas pela perda do seu ícone maior, entusiasta
e liderança natural, porque sentia um prazer tão grande em fazer as coisas da
Igreja junto com todos.
Ao terminar,
retornamos para Caicó e no percurso de saída da cidade, as pessoas se
aglomeravam nas esquinas com ramos nas mãos acenando. Aquela imagem nunca que
me sairá dos meus pensamentos, era uma despedida tão bonita que as vezes me
pergunto, se seria merecedor de ter feito parte da vida dela.
Ao chegar em
Caicó, tudo estava preparado e ainda pediram pra vê-la mais um pouco de tempo,
até que a mesma pessoa que antes tinha trazido uma rosa, veio e depositou um lírio
branco em suas mãos. Quanta felicidade
sentia naquele momento porque sentia a Presença de Deus muito forte.
Realmente O
Senhor Jesus Cristo tinha vindo buscá-la, naquele dia era o dia das
comemorações natalinas, nascimento do Senhor Jesus.
Assim, como
prometi fiquei com ela até o final e ajudei a deixá-la no local que para mim
está na minha memória para sempre, mas de uma forma muito suave, e confortada.
Na quarta feira,
ao acordar quis que tudo aquilo não passasse de apenas um sonho, passei a mão
do meu lado e procurei sentir no vazio algo que pudesse alimentar com a
esperança. Nada, tudo era vazio.
Entre o sono e
ao acordar, fiz as minha orações ainda
sob a terna Presença, e pedi para vê-la. Meus olhos espirituais, viram-na caminhando entre um plantio de trigo
e flores, caminhava de costas, a distância, suas vestes eram umas vestes
brancas de luz muito brilhosa e os ramos do trigo e as flores se inclinavam em
sua direção, enquanto ouvia nos meus ouvidos espirituais um canto de Hosana,
Hosana nas alturas, Hosana ao Rei.
Chorei copiosamente,
mas desta vez de uma forma agraciada pela fé.
Tentando
encontrar algo para ocupar a minha mente e preencher os meus pensamentos me
dirigi até ao sítio e ao descer a estrada do lugar chamado Lanchinha,
calçamento em declive, uma ladeira. No mesmo lugar em que há três dias atrás,
tinha me perguntado sobre a planta da
Groselha e que tinha respondido que não sabia, diante de uma seca da qual
estávamos passando se ainda estava viva ou não.
Disse com forte suave : Coloque
água no meu pé de Groselha.
Ao chegar no
sítio fui até o local do pé de groselha, coloquei água e disse em voz alta.
Agora sei que estais mais viva do que todos nós, tu já
tinhas vindo antes de mim e viu que o seu pé de groselha está vivo. E todas as
vezes que aqui vier visitarei o seu pé de groselha.
Está tudo
consumado e o que posso dizer, assim como Jesus disse;
"Pai que se faça a Tua vontade e não a minha".
"Tudo para honra e Glória do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo"