domingo, 10 de fevereiro de 2013

Memórias....









E entre convulsões,  apesar de ter no rosto uma serenidade sentia a batalha em que se travava até que num determinado momento senti uma necessidade de chegar mais perto, como se fosse um chamado inconsciente , naquele momento recebi uma ligação celular, um amigo da Igreja fez uma oração pelo celular comigo para que tivesse a fortaleza necessária para enfrentar a situação porque ele sentia que nada estava bem, e coloquei no ouvido dela enquanto as orações trilhavam no plano espiritual consolidando uma vitória na batalha travada.
Alguns minutos passaram-se, e dos seus olhos saíram um derramamento de lágrimas muito fortes e depois ficou quietinha. E disse ao enfermeiro, que estava nos acompanhando que observasse que ela estava quietinha e silenciou nos movimentos, e a partir  desse momento o trabalho de parto, um novo nascimento estava sendo processado no plano espiritual.
Foi então, que me lembrei das palavras que foram ditas com o seu acordo; “Que agora ela só iria quando o Senhor Jesus, estendesse as mãos e a recebesse, então ela iria mas de outra forma não.”
Desabei naquele momento em prantos, pensava na minha família, nas minhas filhas, na minha solidão sem ela, porque nunca nos afastamos um do outro a não ser por necessidade e passou um filme na minha cabeça com uma rapidez, que senti como se transformando, sem que tivesse controle mais de nada.
Ao ser consumado a passagem, senti uma tremenda solidão espiritual, uma sensação involuntária de controle da vida. Realmente o homem nada é mais do que como uma chama acesa e ao apagar-se quem seria senão apenas o ar, integrado, ao éter, energia apenas.
Mesmo sem que houvesse mais vida. Indaguei-lhe: Gilza, nunca conversamos nada sobre esses momentos, nunca tivemos  nem coragem de pensar, porque o que queríamos era nossa vida,. nossa felicidade, mesmo assim, me diz, onde você gostaria de ficar?
De uma forma muito forte, porém cansada, como se alguém estivesse acordando de um sono profundo aqueles em que as palavras precisam ser forçadas para que sejam emitidas, ouvi.
“Me deixe ficar com a minha famíliaaaaaaa”.
Respondi: Gilza você está falando comigo. Respondeu: Simmm. Com uma voz arrastada e cansada.
Chamei Helena a irmã dela e disse: Helena, Gilza me pediu para ficar com vocês aqui, junto com a família e relatei o que aconteceu.
A partir daí a Helena cuidou junto com a família para que se  processasse na última morada dela junto com o seus familiares, pai, irmãos, avós, avôs, tios.
Depois que foram efetuado todos os procedimentos de praxe do hospital, o corpo foi encaminhado para o necrotério. Ora pela primeira vez que visitaria um necrotério, como seria isso, nunca tinha visto.
E ao chegar lá, me deparei com vários leitos de cimento e em um deles o corpo foi colocado, e fiquei ao lado dela, enquanto sua irmã Helena ficou lá fora, sentindo a sua ausência e pensando na vida de todos.
Chorei muito, cantei, orei, enfim, nesses momentos nem mesmo com toda preparação alguém poderá dizer o que faria se estivesse no meu lugar. Abri as pálpebras dos seus olhos, e sentia como se ainda estivesse vida.
Pedi perdão de tudo, sei lá, por algo que poderia ter feito e ela não ter gostado ou até  mesmo o que tinha deixado de fazer e lembrei-me que em vida já tinha feito a mesma coisa e ela me respondeu passando suas mãos no meu rosto e dizendo; “Meu filho, porque me pedes perdão, se não tenho nada para lhe perdoar, ao contrário eu é que agradeço em fazer parte da  sua vida.Não nego mas aquilo me deixou muito feliz.
Entre conversas: Disse: Gilza me diz o que será de mim sozinho para cuidar das nossas filhas, nunca me preocupei nem mesmo em aprender nada, tudo você cuidava.
E ela me respondeu com uma voz cansada, arrastada: Eu vou lhe ajudarrrrrr.
Indaguei: Gilza você está falando comigo, está falando comigo, estou ouvindo sim.
Ela respondeu: Sim.
E indagou: Vou lhe pedir uma coisa.
Respondi: Tudo o que você  quiser, peça, pode pedir.
E continuou: Não fale mais naquele assunto não.
E de uma forma bem diferente, sabia de qual assunto falava: E perguntei: Você perdoou e ela respondeu que sim, perdoei.
Então eu disse que também perdoaria e quando ela me procurasse, diria que você tinha  perdoado e eu a perdoaria também.
Naquele momento também tive a ousadia de falar e pedir o que gostaria. Era uma sensação tão forte, como se ela estivesse viva, conversamos e até mesmo esquecia que nada daquilo estava acontecendo. E pedi:
“Gilza, vou lhe  pedir para você não deixar o seu rosto ficar deformado não, para que possamos admirar a sua naturalidade, sua beleza, pelo menos por mais dois dias.
Pedi porque a causa  mortis  tinha sido, insuficiência respiratória, enfarto do miocárdio e em decorrência da suspeita do retorno do problema maior. E naquele momento estava ficando inchada, tirando o formato do seu rosto.
Silenciou e não houve resposta, apenas silenciou.
E continuei, porque estava sentindo essa necessidade de conversar mais ainda, até que senti, que ou como se estivesse sendo avisado de que a funerária estava prestes a chegar.
Gilza, indaguei: Posso lhe pedir uma última coisa, posso. E silenciou e senti como se ela tivesse se virado para alguém ou algo que estivesse na sua retaguarda a sua espera. E continuei: Posso. E silenciou, e fiquei a espera de uma resposta, até que a resposta veio, cansada: Pooodddde.
Isso logo após, assim entendo, como uma autorização para que fosse dada  aquela resposta.
E continuei: Olhe, vou fazer uma oração e invocar a Divina Presença, e a Presença do Arcanjo Miguel, para que ele possa te guardar e entregar você nas Mãos do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e você possa sair daqui agora, e a partir desses momentos você elevar-se e não ficar aqui, para me ver chorando, nem nossas filhas, nem seus familiares, nem as pessoas que lhe querem bem. Tá certo. E apenas o silencio ficou.
E fiz do fundo do meu coração tirando de dentro mim, tudo o que poderia fazer com a minha sinceridade quando estou buscando a Divina Presença.
Bíblia Sagrada – Livro de Judas 8 e 9.
A partir daí meus olhos espirituais viram-na caminhando segurando na mão do Anjo de Luz que a levava, serena e tranqüila, sem mais olhar para trás.
Logo em seguida chegou os serviços funerários e a levou,enquanto me dirigi até a Sede da Diocese a chamado do Administrador Diocesano padre Ivanoff.
O Administrador Diocesano, falou da possibilidade de levá-la novamente até Tenente Laurentino Cruz – RN, para que fosse feita uma Missa de corpo presente, a pedido dos comunitários, em virtude do belíssimo trabalho que ela teria feito, tanto na Igreja Católica, como na Educação Municipal e entre outras atividades que a marcou muito na lembrança da população e mais ainda, na comunidade rural, onde vivemos por mais quase dez anos.
Providenciamos e que no dia seguinte a Missa seria realizada  na manhã do dia 25 de dezembro de 2012 na Igreja de São Francisco – Tenente Laurentino Cruz – RN.
Tão logo o corpo retornou depois dos preparativos da funerária, já estávamos  esperando-a, junto com as nossas filhas, familiares e amigos.
Ao abri e deixar a mostra o seu corpo, confesso que nunca tinha visto tão bonita, uma sensação de ternura, serenidade e seu rosto intacto como se tivesse sido preparada para aquele momento. 
E quando a vi, algo disse muito forte. E repeti para Chiquinha, uma amiga  nossa  que estava vendo e ouvindo; Chiquinha algo me fala de Santa Terezinha, porque será?
Não entendo muito dessas situações da Igreja de Santos e Santas, são tantas que não procuro me ater e nem explorar as riquezas que há por trás de tudo isso, sem que haja idolatria ou acesso acima do Senhor Jesus.
Chiquinha me respondeu: Que só falta a rosa  nas sua mãos. Tão logo ela falou isso, sua sobrinha, trouxe uma rosa e colocou nas mãos dela e tudo aquilo gerava para mim, motivo de conforto. Mas disse, que achava que a rosa ainda não seria aquela que Santa Terezinha tinhas nas mãos, já tinha visto em alguma Igreja, seria um lírio branco  talvez.Chiquinha respondeu que sim. Seria um lírio branco.
No outro dia como estava previsto dirigimo-nos para Tenente Laurentino Cruz, par a Missa de corpo presente, quanta comoção existiu naquele momento, uma Missa tão bem participada, o coral da qual participava cantava suavemente, ainda que todos estivessem comovidos e entre lágrimas pela perda do seu ícone maior,  entusiasta e liderança natural,  porque sentia um prazer tão grande em fazer as coisas da Igreja junto com todos.
Ao terminar, retornamos para Caicó e no percurso de saída da cidade, as pessoas se aglomeravam nas esquinas com ramos nas mãos acenando. Aquela imagem nunca que me sairá dos meus pensamentos, era uma despedida tão bonita que as vezes me pergunto, se seria merecedor de ter  feito parte da vida dela.
Ao chegar em Caicó, tudo estava preparado e ainda pediram pra vê-la mais um pouco de tempo, até que a mesma pessoa que antes tinha trazido uma rosa, veio e depositou um lírio branco em suas mãos.  Quanta felicidade sentia naquele momento porque sentia a Presença de Deus muito forte.
Realmente O Senhor Jesus Cristo tinha vindo buscá-la, naquele dia era o dia das comemorações natalinas, nascimento do Senhor Jesus.
Assim, como prometi fiquei com ela até o final e ajudei a deixá-la no local que para mim está na minha memória para sempre, mas de uma forma muito suave, e confortada.
Na quarta feira, ao acordar quis que tudo aquilo não passasse de apenas um sonho, passei a mão do meu lado e procurei sentir no vazio algo que pudesse alimentar com a esperança. Nada, tudo era vazio.
Entre o sono e ao acordar, fiz  as minha orações ainda sob a terna Presença, e pedi para vê-la. Meus olhos espirituais,  viram-na caminhando entre um plantio de trigo e flores, caminhava de costas, a distância, suas vestes eram umas vestes brancas de luz muito brilhosa e os ramos do trigo e as flores se inclinavam em sua direção, enquanto ouvia nos meus ouvidos espirituais um canto de Hosana, Hosana nas alturas, Hosana ao Rei.
Chorei copiosamente, mas desta vez de uma forma agraciada pela fé.
Tentando encontrar algo para ocupar a minha mente e preencher os meus pensamentos me dirigi até ao sítio e ao descer a estrada do lugar chamado Lanchinha, calçamento em declive,  uma ladeira. No mesmo lugar em que há três dias atrás, tinha me perguntado sobre a  planta da Groselha e que tinha respondido que não sabia, diante de uma seca da qual estávamos passando se ainda estava viva ou não.
Disse com forte suave : Coloque água no meu pé de Groselha.
Ao chegar no sítio fui até o local do pé de groselha, coloquei água e disse em voz alta.
Agora sei que  estais mais viva do que todos nós, tu já tinhas vindo antes de mim e viu que o seu pé de groselha está vivo. E todas as vezes que aqui vier visitarei o seu pé de groselha.
Está tudo consumado e o que posso dizer, assim como Jesus disse;

"Pai que se faça a Tua vontade e não a minha".






 "Que a Paz, a Saúde e a Felicidade reine em                 nossos corações"

"Tudo para honra e Glória do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo"













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