Confesso que se fosse apenas por mim, nunca mais me dirigia à clínica onde tinha que receber o resultado do exame. Mas, a responsabilidade fala mais alta, e liguei para a clínica e me disseram que estava pronto e que deveria ir buscar. Minhas pernas ficaram bambas. Era chegada à hora, passava pela minha memória tantas coisas sobre nós, como nos amávamos, como éramos amigos sinceros, cuidávamos um do outro com uma proteção exemplar. Às vezes, divergíamos sobre religião e educação, porque nunca fui religioso, sou ecumênico e minha religião é apenas Jesus Cristo, apesar de venerar, Nossa Senhora, que a chamo carinhosamente de minha mãe, não aceito idolatria, e tantas outras baboseiras que se fala por ai. E na Educação, porque o professor não se respeita quando deixa de exigir a sua autoridade, assim , como um médico prescreve tratamentos a um paciente, o professor poderia ter a autoridade de prescrever tratamentos pedagógicos aos pais de alunos para aplicarem e disciplinarem seus filhos.
Recebi o exame fechado em envelope plástico, não quis abri-lo. Na verdade tive medo de encarar de frente o problema sozinho, precisava da ajuda de um profissional. Dirigi-me até o Posto de Saúde, onde o Médico atendia. Fui acompanhado de minha filha Maria Clara. Ao chegar no Posto, todos sabiam da nossa situação e me permitiram que entrasse rapidamente no consultório. Entreguei o exame a Dr. José Fernandes e me perguntou por que não tinha tido a curiosidade de saber o resultado. Respondi que precisava das orientações dele.
Ao abri-lo, leu os resultados e disse: Confirmado os resultados positivos, câncer de ovário, muito avançado e enfim, muito grave mesmo.
O que se pode fazer, ou se há algo que se possa fazer. Indaguei-lhe.
O tratamento terá que ser feito pela Liga em Natal, é preciso correr com o tratamento, tem que ser urgente. Encaminharei a solicitação de tratamento e deves procurar a Secretaria de Saúde para resolver o restante das solicitações de tratamento.
Era chegada à hora de revelar a Gilza a problemática de sua saúde. Como poderia fazer tal citação, uma vez que, já tinha visto no primeiro momento o desespero da Minha filha Maria Clara que fomos os primeiros a sabermos, ou seja, me senti obrigado a revelar para ela naquele momento, até porque, não consegui dominar as minhas emoções através das lágrimas.
Pedi para Maria Clara dormir cedo, não falar nada sobre o assunto e nem deixar transparecer as emoções sobre o assunto, motivo pelo qual acho que ela dominou muito bem, teria que conversar com Gilza a sós enquanto todos dormiam.
Deitamo-nos, orei no silêncio do meu coração, pedi forças ao meu Deus para ter a coragem suficiente de falar, porque na realidade as nossas fraquezas requerem mesmo é que escondamos o problema e se possível fugir dele. Pouco tempo, levantei-me, verifiquei minhas filhas dormindo e escutei um soluço baixinho era Maria Clara, mas sabia que podia contar com ela naquele momento. Dirigi-me ao quarto novamente e Gilza me perguntou se estava com insônia e de pronto, disse: precisamos conversar agora.
Ela sentou-se como se já esperasse, sentamos-nos de frente um para o outro e disse: Gilza é chegada a hora de colocarmos nossa fé em ação, precisamos de fortaleza o bastante para vencermos esta situação. Ela ouvia em silêncio e logo completou. Eu já sabia, embora que não quisesse aceitar. Sei que vou lutar muito, mas lutarei até o limite das minhas forças. Creio em Deus Pai, Filho e o Divino Espírito Santo. Vamos lutar então, indaguei; Ai não aguentou desabou em pranto como se tivesse caído na real sobre a gravidade do problema. E as nossas filhas.... E minha família..... e os meus alunos.... e minha escola....
Tudo isso foi como uma responsabilidade despertada como se algo faltasse a ser concluído.... A vida. Verdade. Salvação.
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