terça-feira, 11 de outubro de 2011

Hora da verdade - Diagnóstico.


Ao terminar a concentração, Clara e Cecília já estavam bem, voltamos para o Hospital. Consegui entrar e fui até a sala de enfermaria,  e naquele momento ela já estava sendo trazida para a respectiva sala, vinha segurando uma  bolsa de sangue,estava  grogue mais consciente.
Gilza!  Falei baixinho. Respondeu-me: oi meu filho, cadê as meninas,
Respondi que estavam lá fora esperando.
Ajudei o enfermeiro, a colocá-la na cama, falei com as enfermeiras e pedi que  estivessem atentas,  pois sabia que ela estava bastante debilitada. E  disseram para que não me preocupassem, pois fariam tudo o que fosse possível para que ela estivesse bem e senti um amor diferente por parte daqueles profissionais que até então desconhecia.  Ora,  era a primeira vez que me deparava com uma situação como aquela. Como é difícil...
Voltei para casa com as nossas filhas, Cecilia e Clara. Antes, providenciei uma enfermeira, que de forma voluntária, prestou-se  a cuidar dela e logo pela manhã  já estava  ao lado dela.
No dia seguinte recebeu visitas, riu, brincou como sempre. Mas sabia que a luta estava apenas começando.
Sábado, 18 de setembro, às 06h00min horas da manhã. Depois de ter passado a noite  em vigília e entre intervalos olhando para as minhas filhas deitadas ao meu lado, passava pela minha memória, minha vida desde criança até aquele momento, nossa família que tão bem tínhamos conseguido permanecer, com amor, compreensão, educação...
O aviso chega através de Zé de Biu, popularmente assim conhecido, que o Dr. Eduardo queria falar comigo com urgência, urgentíssima.
Dirigi-me até a cidade de Currais Novos e na viagem preparei-me para enfrentar a verdade sobre o diagnóstico, pois sabia que a situação era muito grave. Entrando  no hospital, levaram-me a presença de Dr. Eduardo, não o conhecia pessoalmente, mas já tinha ouvido falar dele, como médico experimentado e convicto das situações mais difíceis.
De bermuda, cabelos grisalhos, ar de preocupação  entendi que era chegada à hora:
Um breve instante em silêncio:
“Sou apenas um postulante, um Neófito nesta vida. Mas,  acima de tudo o Senhor é o Meu Pastor nada me falta. Ele me faz caminhar em pastos verdejantes. Guia-me mansamente as águas tranqüilas. Refrigera a minha a alma. Guia-me pelas veredas  da Justiça por amor de seu Nome. Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo. Vosso bordão e Vosso báculo são o meu amparo. Preparais para mim a mesa a vista de meus  inimigos. Derramai o perfume sobre minha cabeça e o meu cálice transborda. Certamente a bondade e a benignidade me seguirão por todos os dias de minha vida e habitarei na casa do Senhor para todo sempre.”
E nas águas profundas continuei:
“Sim e meu ser interior conhece todos esses caminhos,  pois já habitou por inúmeras moradas nesse mundo escuro. Mal  grado minha memória não diga, pois já passaram pelos meus olhos incontáveis milhões de anos. E meu ser interior conhece todos esses caminhos.
Resoluto, submeto-me a prova.
Reflexão. Sim. Refletir é o meu propósito. Eis a misteriosa chave que me conduz ao infinito.
Sou  apenas um peregrino em busca da Luz.
Entrei na sala, fiquei em pé diante dele como se já soubesse todas as palavras que seriam ditas. Mas o pior ainda não estava convicto  que a situação ainda era mas difícil  do que podia  admitir.
De forma dura enérgica, pediu para eu me sentasse, preferi  ficar em pé diante dele, mãos em posição de  defesa e aceitação  em posição de descanso.
Disse: A situação é muito difícil, quase não consegui tirar, estava já muito adiantado, mas consegui chegar até o final dos procedimentos.
Continuou: Câncer em estado muito avançado. E estou liberando-a amanhã, domingo as 09h00min da manhã para que vocês possam levá-la para casa.
Mesmo estando preparado  para aquele momento, minhas pernas quase desabaram peguei uma cadeira, sentei um pouco e perguntei  se podia ir ficar com ela naquele instante e me respondeu que sim, apesar de que estava fora do horário de visita.
Respirei profundamente: E agora...
Preparei-me mais um pouco e dirigi-me até a enfermaria. Ela  Estava tomando a terceira bolsa de sangue. Do dreno,  saíam coisas fortes. Da bolsa de urina, o sangue era como, se  o que estivesse entrando pelas veias estivessem,  também saindo.  
A Verônica, a enfermeira que estava acompanhando-a demonstrou claramente suas preocupações e sei que  ela também já sabia, mas que pelos procedimentos éticos da medicina não podia expressar-se em palavras e eu conseguia enxergar tudo aquilo sem que me alterasse e não deixava transparecer as minhas preocupações. Dizia-me: Chaguinha você  tem fé reze, reze, reze.
A chegar perto dela, abriu os olhos falou comigo e naquele instante chorei, e ela me perguntou por que chorava e tive que dizer que era porque nunca a tinha visto naquele estado e então tinha ficado muito  emocionado.
Dias depois ela me falou que tinha desconfiado das minhas palavras porque sabia do meu controle das emoções em tudo que faço.
Pedi a Verônica para  ficar sozinho com ela, e sabia que era a hora de começar a buscar a Deus com todas as forças dos nossos corações:



Salmo 24 – Deus, guia do fiel.

“Para vós, Senhor,  elevo a minha alma.
“Meu Deus, em vós confio: não seja eu decepcionado”

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário