terça-feira, 5 de julho de 2011

Eu já não me reconheço mais...


Após quinze dias da quimioterapia, meu cabelo começou a cair... Para mim um dos momentos mais difíceis. Quando eu digo isso, muitas pessoas acham que é por causa da beleza, do cabelo, mas amigos não é. Eu comecei a perder a minha identidade, não me reconhecia mais. O cabelo é a moldura do seu rosto, seu rosto é a sua identidade como pessoa, e o que eu via no espelho não era eu... Quem será? Os sentimentos são os mesmos, mas o rosto já não é mais o meu. Confesso que senti vergonha, e não adianta ninguém dizer, “há, cabelo cresce”, sim eu sei, mas naquele momento, era somente eu e eu, portadora de uma doença terrível, que devasta sua vida e a vida dos que lhe rodeiam... Meu cabelo caia sem parar. Onde eu me sentava ficava aquele monte no chão. Resolvi cortar curtinho e fui a um salão perto de casa. A cabeleireira me recebeu bem e disse: “vou cortar curtinho, te deixar bonita para o Natal”. Assim ela fez. Algumas pessoas diziam: “raspe a cabeça” e eu pensava: não vou fazer isso, pois será um choque grande para Maria Cecília, que é minha pequena, na época com 8 anos...
Chegou o dia de natal e fizemos um jantar de comemoração. Comemorar a Vida! Estavam presentes eu, Chaguinha, Clara e Cecília, Fátima, irmã de Chaguinha, Toinho e Álvaro, Marcelo, Neném, Marina, Monique, Mosheh, Ertho e Madrinha. Foi muito bom, dançamos muito. Eu já estava bem...
Durante a semana, meu cabelo voltou a cair muito e pedi a Monique para cortar mais...
Chegou o Ano Novo, meu aniversário e eu estava lá, firme e forte. Fomos almoçar no Mangai, um restaurante típico do Nordeste, foi muito bom. Recebi muitas ligações da família, dos amigos de Tenente Laurentino... Como é bom se sentir amada! E era assim que eu me sentia. Vitoriosa naquele momento, pois tinha conseguido chegar viva em 2011.
No dia 04 de janeiro fui para o CECAM - LIGA, fazer a segunda quimioterapia, bem mais calma, já sabia o que me esperava... Chaguinha, como sempre, me acompanhava. Quando fui para casa enfrentei mais uma vez as consequências quimioterápicas. Vômitos, enjôos, diarréia, mal estar... passados quinze dias já me sentia bem e fomos passar um final de semana na praia. Como foi bom! Brinquei, tomei banho de mar, como o mar é lindo!... Ri muito e fiz rir também. Obrigada meu Deus por me proporcionar momentos como aqueles...
Continua...

Um comentário:

  1. Acredito que a identidade vista no espelho já não era da mesma mulher... Aquela, com moldura do rosto modificada pela falta dos cabelos, era a mulher que soube reconhecer sua força para enfrentar a batalha. :-)

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